29/11/2018

Distrito tecnológico, inovação e requalificação urbana

Com a mudança da CEAGESP, Governo Federal, Estado e Prefeitura de São Paulo trabalham juntos para criar um ambiente tecnológico sustentável que atraia empresas, universidades, empreendimentos e emprego intensivo e qualificado



Na abertura da Conferência Internacional “Distritos de Inovação: conceitos, casos e política pública”, realizada no último dia 22 na sede da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a secretária de Urbanismo e Licenciamento de São Paulo – SMUL, arquiteta-urbanista Heloisa Proença, destacou a importância da criação na cidade de um polo tecnológico que acelerará a inovação no país, criando condições para o desenvolvimento de uma massa critica in loco, além de requalificar uma região como a da atual CEAGESP. Localizada no Arco Pinheiros, já fora um charco no século retrasado e atualmente reúne uma série de problemas urbanísticos, como moradias vulneráveis e abandono de construções, outrora ocupadas por atividades econômicas que se encontram defasadas.

“A presença de um campus universitário de grande importância como a USP, de uma zona industrial voltada à indústrias de alta tecnologia, um parque tecnológico ainda incipiente, empresas ligadas à economia criativa e a possibilidade de um futuro polo de pesquisa na gleba CEAGESP corroboram para que o Arco Pinheiros transforme-se em um território de inovação, voltado à educação, pesquisa, criação, tecnologia e outros usos associados ao desenvolvimento de novas centralidades de âmbito local”, afirmou Heloisa Proença.

É com este instigante conteúdo que a SMUL e a São Paulo Urbanismo, empresa pública vinculada à SMUL, aprofundam os estudos na definição do Projeto de Intervenção Urbana do Arco Pinheiros – o PIU Arco Pinheiros, e coordenam iniciativas como esta da parceria FIPE/FAPESP, a fim de investigar cenários de ocupação e modelos de negócios capazes de estruturar a gleba da CEAGESP neste contexto de desenvolvimento econômico e territorial da região e da Cidade de São Paulo. “Integrando, articulando e reforçando as potencialidades presentes nas diferentes porções do seu território, de modo a assegurar o uso mais coerente e inteligente da cidade, de sua infraestrutura e de seus recursos.”, concluiu a secretária da SMUL.

Organizado pela FAPESP e FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, com a participação da SMUL e da  SMIT- Secretaria de Inovação e Tecnologia do município, a Conferência trouxe a São Paulo os diretores de cinco importantes distritos tecnológicos: David Garcia, 22@Barcelona; Santiago Ospina, Ruta N Medellín; Pablo Sebastián Escobar, Distrito Tecnológico Buenos Aires; Pierre Lucena, Porto Digital Recife, e Cory Mulvihill, MaRS Toronto.

Em comum, esses distritos tecnológicos contam com a formação intensiva de mão de obra qualificada em tecnologia que darão o impulso a novas atividades e empresas. Além disso, por se situarem em zonas marginalizadas da cidade, carentes de preservação de patrimônio histórico, criam um ambiente saudável e sustentável para propiciar maior integração entre as atividades e atrair a população jovem e empreendedora.

A maioria dos distritos foi criada por volta do ano 2000 e contou com forte indução governamental, mas também com participação concreta de universidades públicas e privadas e setor empresarial, um trinômio comum que possibilitou a estruturação e continuidade do polo tecnológico. Garcia, diretor de 22@ Barcelona, acrescentou uma variável fundamental ao trinômio quando questionado sobre as interferências no projeto causadas pela alternância dos prefeitos de Barcelona. “A sociedade catalã é muito organizada, assumiu o projeto e com este forte apoio do público não foi possível voltar atrás, mesmo que quisessem”.

Ospína, de Medelín, comentou a situação de violência da cidade em 1991. “Trezentos e oitenta e um homicídios por 100 mil habitantes, hoje estamos com 111. Violência causada pelo tráfico de drogas e grupos armados de oposição política. Medellín tem uma topografia irregular e o polo foi instalado em 2004 entre montanhas, cercadas por favelas e população de baixa renda, ainda mais penalizada pela decadência da indústria têxtil que fora a atividade forte nos anos 60 a 90.” Neste Distrito, que hoje abriga muitas empresas estatais – âncoras do projeto colombiano –, houve a preocupação de incluir a população local por meio da instalação de escadas rolantes e teleféricos, uma forma inovadora de mobilidade e inclusão de grupos vulneráveis   no projeto, segundo Ospina.

O Porto Digital do Recife completa 18 anos neste ano. Foi criado para abrigar “os formandos de tecnologia da Universidade de Pernambuco e vender serviços”, segundo Lucena. Mas conseguiu muito mais do que isso. Instalado na área mais antiga da cidade, o velho centro, já conseguiu restaurar 84 mil m² de patrimônio histórico do local onde estão localizadas suas startups e oficinas. Prestes a revitalizar outra área próxima da cidade, cujos índices de violência e uso de drogas são preocupantes, o Polo restaurará e ocupará o edifício do “Diário de Pernambuco”, a empresa mais antiga do Brasil, fundada há 195 anos. O Polo recebeu o premio IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de restauração do patrimônio em 2017 e reúne 316 empresas, 800 empreendedores e nove mil colaboradores, fatura U$ 1,7 bi por ano e exporta para São Paulo algumas candidatas a “unicórnios”, antigas startups que podem faturar mais do que U$ 1 bilhão/ano.

Ancorado no subsídio estatal, incentivos fiscais e linhas de crédito especiais, o Distrito de Buenos Aires promete acabar com o bolso visível do Estado em 2034. Criada em 2008, reúne 319 empresas instaladas, 19 mil empregos e fatura U$ 355 milhões. Ocupa área vulnerável da cidade, na qual investiu em segurança e mobilidade. Hoje, aumentou o valor do m² local em 425%. E constatou que as startups não se interessaram pelo Distrito, o que obriga a direção a mais um desafio: criar novas fórmulas que a atraiam.

Confiante que os talentos migram para os grandes centros próximos às Universidades, os canadenses de Toronto criaram a MaRS Discovery District, a smart city. Mulvihill foi muito sincero ao declarar que os canadenses estão cansados de ver suas criações assumidas por outros povos e principalmente faturadas por terceiros. “Como a descoberta das células-tronco, por exemplo.” As principais empresas do Distrito canadense são ligadas à saúde, como a Deep Genomics do pesquisador Bredan Frey. O slogan do distrito é “MaRS ajuda as inovações a mudarem o mundo”.

Com a  mudança da Ceagesp – maior central de abastecimento da América Latina – para outra localização da cidade, o Governo Federal, Estado e Município de São Paulo firmaram um Acordo de Cooperação Técnica para a criação desse polo tecnológico e a requalificação da área na qual se integram outros projetos urbanísticos criados pela  SMUL/ SP-Urbanismo, como o PIU Arco Pinheiros e PIU Vila Leopoldina-Villa Lobos. FAPESP/FIPE elaboram o Termo de Referência (Master Plan) deste distrito tecnológico paulistano. O trabalho fica a cargo de uma equipe multiprofissional, coordenada pelo economista Andrea Calabi, arquiteta-urbanista Marta Grostein e Carlos Américo Pacheco, CEO da FAPESP, que incluíram no projeto a criação de outro polo, o da Fazenda Argentina em Campinas, próximo à UNICAMP.

A conclusão da Conferência Internacional “Distritos de inovação: conceitos, casos e política pública” , que contou com comentários de especialistas brasileiros que formam a equipe de trabalho, reforça a percepção de que as habitações são essenciais nos distritos de inovação, assim como parques, mobilidade sustentável e a criação de um espaço vivo para se trabalhar e viver, registrando histórias patrimoniais e sociais.




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